O
aporte dos mestres
Não
resta dúvida que fluíram para as terras brasileiras, onde já existiam espíritos
de alta hierarquia entre os indígenas, grandes mestres vindos de outros
continentes e notadamente, inicialmente, para a Bahia, procedentes da África, o
que faz da Bahia uma região líder do espiritualismo universal. Mas, não quero
ir em frente sem um registro: entre os indígenas dos dez séculos anteriores ao
descobrimento do Brasil, estavam alguns dos grandes mestres espirituais do
extinto Continente de Atlântida (será tema para uma série).
Entenda
prezado leitor, que a espiritualidade indígena, africana, kardecista ou budista
e hinduísta em nada diferem uma da outra. Para cada nível de consciência há um
padrão de serviço espiritual, que vai do um aos mais elevados padrões. Sempre
que algumas pessoas se apressam em separar isto daquilo, o que se dá é
preconceito e muitas vezes com fundo racista, inclusive.
Afirma-se
que a história do espiritismo (branco) no Brasil remonta ao ano de 1845,
quando, no então distrito de Mata de São João, na então Província da Bahia, em
função de trabalhos espíritas teriam sido registradas as primeiras
manifestações dos espíritos e as primeiras reações contrárias a esta prática.
De acordo com Divaldo Pereira Franco, o ano teria sido 1849 (a data pouco
importa), tendo se caracterizado por um confronto entre elementos da Igreja
Católica e espíritas (embora Kardec ainda não tenha publicado seu primeiro
livro – O Livro dos Espíritos) com a interveniência de força policial.
Porém,
note, leitor, que em 1845 ou 1849, o Brasil tinha cerca de 200 anos de
escravidão em andamento e nas senzalas ou quilombos nossos negros lidavam
diretamente com sua espiritualidade que era, certamente, trabalho espírita,
porém negro, como ainda pensam alguns. Havia, em 1845/49, séculos de
espiritualidade do chamado período do povo da Terra das Araras Vermelhas,
pioneiros habitantes do continente migrantes da Atlântida e ancestrais das
posteriores nações indígenas, principalmente do Leste da Terra de Santa Cruz.
Esta história espiritual não é menor nem desprezível pelo simples fato de vir
dos povos primitivos. Prometemos e vamos abrir uma série com este tema.
O
fenômeno das mesas girantes, no Brasil, foi noticiado, pela primeira vez, pelo jornal “O Cearense”, no ano de 1853.
Em
Salvador, capital da Bahia, foi fundado em agosto de 1857 o Conservatório
Dramático da Bahia, do qual participavam, entre outras personalidades, Rui
Barbosa e Luís Olímpio Teles de Menezes, influentes senhores do Brasil imperial.
Foi neste grupo que Teles de Menezes travou contato com os estranhos fenômenos,
vindo a corresponder-se com espíritas franceses.
Nas
páginas da Revista Espírita, sob o título "O Espiritismo no Brasil",
Kardec informou aos seus leitores que o periódico “Diário da Bahia", em
suas edições de 26 e 27 de setembro de 1865, trouxera dois artigos, tradução em
língua portuguesa dos que haviam sido publicados, seis anos antes, pelo Dr.
Amedée Déchambre (1812-1886), coordenador de publicação do “Ditionaire Encyclopédique
des Ciences Médicales”, onde a medicina já aceitava lidar com a questão
espiritual. Mas, especificamente neste caso, os artigos eram transcrições da
“Gazette Médicale”, onde aquele médico fizera uma exposição conturbada do
assunto, referindo, por exemplo, que o fenômeno das mesas girantes e falantes
já havia sido referido pelo poeta grego Teócrito (300-250 a.C.), pelo que
concluía que, não sendo novo esse fenômeno, não tinha nenhum fundo de
realidade. Na realidade, apenas aumentava o interesse popular, pois Pitágoras,
antes de Teócrito, também tratou da questão espiritual.
Repito:
Kardec não é o criador do espiritismo e sim o sei codificador. O espiritismo
estava presente em egípcios, indianos, chineses, persas e judeus nos vários
milênios anteriores a Cristo.
"Lamentamos
que a erudição do Sr. Déchambre" - comentou Kardec -, "não lhe tenha
permitido ir mais longe, porque teria encontrado o fenômeno no antigo Egito e
nas Índias." (Op. cit., v. VIII, p. 334-335). Os próprios espíritas da
Bahia refutaram imediatamente esses artigos no próprio "Diário da
Bahia", na edição de 28 de setembro. A carta que antecedeu a refutação,
dirigida à redação da folha baiana e assinada por Teles de Menezes, José
Álvarez do Amaral e Joaquim Carneiro de Campos, leva a supor que o referido
jornal só publicara o trabalho do Dr. Déchambre por julgar houvesse nele uma
apreciação exata da Doutrina Espírita.
A
refutação consistiu num extenso extrato da introdução de “O Livro dos
Espíritos”, o que levou Kardec a afirmar: "As citações textuais das obras
espíritas são, com efeito, a melhor refutação às desfigurações que certos
críticos fazem sofrer a Doutrina." (Op. cit., p. 336. Apud Zêus Vantuil e
Francisco Thiesen. Allan Kardec - Pesquisa Bibliográfica e Ensaios de
Interpretação. Rio de Janeiro: FEB.)
Este
episódio é contemporâneo da fundação, naquele mesmo ano (1865), em Salvador, do
Grupo Familiar do Espiritismo, por Teles de Menezes. Será este mesmo personagem
que orientará, nesse ano, a primeira sessão espírita registrada nos anais do
Espiritismo (branco) no País, a 17 de setembro.
No
ano seguinte (1866), na cidade de São Paulo, a Tipografia Literária publicou “O
Espiritismo reduzido à sua mais simples expressão”, de Kardec, sem indicação de
tradutor.
Também
foi na Bahia que se registou o início da reação da Igreja Católica através da
pastoral "Contra os erros perniciosos do Espiritismo", de autoria do
então titular da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, Dom Manuel Joaquim da
Silveira (16 de junho de 1867). Mas, nas senzalas onde milhares de escravos
baianos ficavam à disposição dos senhores de engenhos, cafezais e cacauais,
todas as noites os espíritos eram invocados bem à margem do olho gordo do
arcebispo.
Em
julho de 1869, em Salvador, iniciou-se a publicação da revista “O Écho d’Além
Túmulo”, sob a direção de Teles de Menezes.
Mais
tarde, em novembro de 1873, fundou-se em Salvador a Associação Espírita
Brasileira, continuação do "Grupo Familiar do Espiritismo" e, no ano
seguinte (1874), na mesma
cidade, alguns membros dessa Associação fundaram o "Grupo Santa Teresa de
Jesus".
Bravo! Como filha de São Salvador, aplaudo com o coração este série de posts.
ResponderExcluirParabéns, Homero, pelo seu dedicado e minucioso trabalho, que ilumina a nossa imensa ignorância.
Um forte abraço baiano,
Karla Menezes