O Sacrifício de
Jesus
Introdução
Já estivemos discorrendo sobre a
chegada de Jesus à Palestina numa missão extraordinariamente ligada ao povo
judeu, escolhido por Deus para ser referência da obra de Deus aqui no planeta,
saudado em inúmeras profecias e, para todos os efeitos, não aceito pelos
judeus.
Um povo movido a profecias desde
a partida de Abraão de Harã em busca da terra prometida, toda a história
hebraica foi uma sequência de profecias, menos aquelas que se referiam a Jesus.
Precisamos entender os cenários daquilo
que Jesus pregava como Reino dos Céus ou Reino de Deus na terra. O governo
divino legisla e os súditos desencarnados e encarnados são chamados a cumprir
as leis. Em nenhum momento os mentores espirituais do bem e do mal exercem
coerção sobre os espíritos, que têm autonomia para escolher a quem seguir, como
posicionar-se. Diferente do que ocorre na cultura da maioria das sociedades
entre encarnados, na espiritualidade não há coerção policial, não há castigos
“físicos” e sim consciência, moral, cujo resultado é assumir seus atos, seus
posicionamentos e capitalizar os resultados disso, bem como ocorre numa
universidade onde o aluno será aprovado ou reprovado segundo seu desempenho.
Ele não irá preso, não será castigado “fisicamente” e sim diante do ônus ou do
bônus de seu desempenho. Poderá escolher permanecer sem aprovação pelo tempo
que quiser, mas chegará o dia em que sua consciência o convocará para a
obtenção de méritos que o levem à aprovação.
Aqui entre os humanos encarnados
e frente às leis humanas os erros praticados podem ter consequências
limitadoras das liberdades e quiçá até castigos físicos, como é ou foi o caso
das chicotadas em público, da prisão em casas de serviços forçados ou mesmo da
pena de morte. Mas, é preciso considerar que perante algumas leis naturais os
erros cometidos têm como reação a própria natureza, como são os abusos com
alimentação, bebida, maus tratos ao meio ambiente, etc., que a reação surge sem
que haja um tribunal ou um juiz ou uma sentença.
A noite chegará
ao fim
Vamos dar um mergulho nas
profecias de um período de cerca de dois mil anos antes da chamada Era Cristã
para entender o que os grandes médiuns da comunidade hebraica quiseram
mencionar sobre a presença entre nós de Jesus de Nazaré. Nenhum outro líder
espiritual foi tão celebrado.
Entre todos, talvez seja o
profeta Isaias o que mais anunciou o Senhor Jesus. Na verdade o Novo Testamento
diz que Isaias viu a Gloria de Jesus: “Assim se exprimiu Isaías, quando teve a
visão de sua glória e dele falou” João 12,41.
É possível identificar o momento
em que o profeta viu a gloria do Senhor com a ocasião de seu chamamento, quando
viu “o Senhor sentado num trono muito elevado; as franjas de seu manto enchiam
o templo” Isaías 6,1.
Isaias profetizou a vinda de
Jesus falando praticamente tudo sobre ele, como, por exemplo, sua pregação, sua
obra, sua rejeição, sua eternidade, etc. Uma profecia em particular – a do
capitulo 9 de Isaias - fala do nascimento de Jesus.
O primeiro anúncio de Isaias foi
de que a noite do povo chegaria ao fim: “O povo que andava nas trevas viu uma
grande luz” Isaías 9,1. Uma das principais características dos profetas era
trazer mensagem de esperança. Nesse trecho, Isaias se refere especialmente a
uma região desprezada pelo povo de Israel, que era a Galileia, sempre habitada
por estrangeiros e, por isso, desprezada pelos israelitas. E ele previu: Deus,
entretanto, não a deixará abandonada para sempre. Nem as trevas a continuariam
obscurecendo.
Naquele tempo Israel estava sendo
terrivelmente ameaçado pela Síria, e logo a Assíria projetaria sua sombra sobre
a nação. Na invasão dos assírios, a região de Galileia seria a primeira a cair.
A afirmar que restauraria a Galileia, Deus incluía toda a nação naquele
momento, oprimida pelo inimigo, com o povo literalmente “em trevas”, mas, com a
libertação que viria do Senhor, veria “grande luz”: “O povo que andava em
trevas viu uma grande luz; e sobre os que habitavam na terra de profunda
escuridão resplandeceu a luz” – Isaías 9,2. Em vez de tristezas, o povo teria
alegrias, pois qualquer vestígio de batalhas desapareceria, segundo o profeta
no capítulo 9, versículos 3 a 5. O lugar mais tenebroso seria o primeiro a ver
a luz.
Apesar de haver um cumprimento
literal dessa profecia com a restauração do exilio da Babilônia e a
reconstrução da nação, incluindo Galileia, que geograficamente foi a primeira a
ser habitada com a volta do exílio, certamente o momento de maior iluminação
que aquele povo já viu se deu bem mais tarde, quando um jovem com não mais que
30 anos andou por aquela região pregando a palavra de Deus e realizando os
sinais mais maravilhosos jamais vistos. Seu nome: Jesus de Nazaré.
Embora Jesus tenha nascido em
Belém, passou a maior parte de sua vida e os primeiros anos de seu ministério
justamente da Galileia, a ponto de ser discriminado pelos judeus, que não
aceitavam que um galileu pudesse ser profeta. Jesus honrou aquela região com
sua presença. O povo de lá foi o primeiro a ver a luz. Assim, a profecia de
Isaías se cumpriu totalmente, conforme o Novo Testamento testifica, quando
Jesus se mudou de Nazaré para Cafarnaum, na Galileia. “Deixando a cidade de
Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, à margem do lago Tiberíades, nos confins de
Zabulon e Neftali, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías”
Mateus 4,13-14.
Foi a partir daí que Jesus
começou a pregar e dizer – “Arrependei-vos e fazei penitência, porque é chegado
o reino dos céus” Mateus 4,17.
Em todo momentos difíceis pelos
quais o povo de Israel passou, a ideia de um libertador que viria, começou a
ser disseminada. Ele seria o “Messias”, literalmente, o “ungido”, que teria a
missão especifica de libertar o povo. Da própria Bíblia o povo extraia essa
noção lendo, por exemplo, sobre o descendente de Maria, como escreve Lucas
1,31-33: “Eis que conceberás e darás a luz a filho e nele porás o nome de
Jesus”. Extraía também a promessa de que Deus levantaria um profeta igual a
Moisés: “O Senhor, teu Deus, te suscitará dentre os teus irmãos um profeta como
eu: é a ele que devereis ouvir” (Moisés através de Deuteronômio 18,15). E
também sobre o descendente de Davi que assentaria para sempre no seu trono:
“Quando chegar o fim de teus dias e repousares com os teus pais, então
suscitarei depois de ti a tua posteridade, aquele que sairá de tuas entranhas,
e firmarei o seu reino. Ele me construirá um templo, e firmarei para sempre o
seu trono real” 2º Samuel 7,12-13.
Sempre que o povo se encontrava
numa situação desesperadora, voltava os olhos para o Messias esperado
aguardando a proteção dele. Aquela não era um espera injustificada porque, de
fato, o Messias viria. Isaias, com olhar profético o viu como já nascido, e
afirmou: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu” Isaías 6,9. Esse
menino seria a concretização de todos os sonhos de Israel. O nascimento dele
seria a verdadeira luz que iluminaria a todos os que jaziam nas sombras da
morte. Jesus se identificou com o Messias que o Novo Testamento chama de o
Cristo. Quando André, irmão de Pedro, encontrou-se com Jesus foi dizer a seu
irmão: “Achamos o Messias (que quer dizer Cristo) e o levou a Jesus” João
1,41-42.
Pena que o povo judeu, esperando
por um rei terreno, nunca viu em Jesus as características do Messias
profetizado por Isaias, que foi muito além do que um rei terreno pode produzir.
Este foi, sem nenhuma dúvida, o maior erro de fé de toda a história humana.
Sempre será excelso perguntarmos
como estaria o povo judeu nos tempos atuais se tivesse ele assumido a doutrina
de Jesus?
Isaías previu a vinda de Jesus e
Daniel o holocausto judeu
O que mais pode ter faltado ao povo hebreu para
fazer a leitura de seu destino se os seus principais profetas previram tudo?
Há um capítulo do livro de Daniel, o 12, em que ele
anota o recado da espiritualidade: “guarda isso secreto, e conserva este
livro lacrado até o tempo final”. Todos quiseram retirar esse lacre, mas foi João
Evangelista que voltou ao tema cerca de 700 anos mais tarde. E o tema era a ira
de Deus contra os hebreus através da Besta do Apocalipse, prevista por João e
ocorrida durante o período da II Grande Guerra. Tudo previsto.
Esse era o tempo previsto para a derrota de Satã e a
implantação definitiva do Reino de Deus entre os homens.
Daniel adverte então já se referindo à destruição do
Templo de Jerusalém, no ano 70 d.C. e novamente se referindo às Cruzadas no
século XI, para finalmente referir-se ao fim do holocausto, quando escreve: “Dn
12;11 -
Desde o tempo em que for suprimido o holocausto perpétuo e quando for
estabelecida a abominação do devastador, transcorrerão mil duzentos e
noventa dias” cada dia representado por um ano.
João Evangelista deixou claro já antes de escrever o
Apocalipse: “I João 2;18: Filhinhos,
esta é a última hora.
Vós ouvistes dizer que o Anticristo vem. Eis que já há muitos anticristos,
por isto conhecemos que é a última hora”. Previu também, depois, nos
textos apocalípticos, que a vingança contra os hebreus, viria através do
descendente de Davi (Jesus) através do próprio Davi (reencarnado na figura de
Adolf Hitler, como demonstramos aqui numa série anterior).
Foi a partir da Guerra movida pelo Führer alemão
contra as nações livres, que ocorreu o holocausto judeu, mas na sequência foi
criado o Estado de Israel devolvendo aos judeus a sua Pátria.
Mas, uma coisa ficou faltando cumprir-se das
profecias todas: o reconhecimento judeu de que Jesus foi o Messias esperado por
eles e não reconhecido por eles.
Qual poderia ser
o segundo nome de Jesus
Terminamos o texto do parágrafo penúltimo anterior perguntando ao Universo: como estaria o povo judeu nos tempos atuais se tivesse
ele assumido a doutrina de Jesus?
A resposta não quer calar:
estaria como um povo excelso, sem nenhuma dúvida eleito por Deus como exemplo
para o mundo. Pena que não foi assim e o estigma que o torna o povo mais
perseguido do planeta continua mais vivo que nunca.
O menino visto por Isaias teria
qualidades que dificilmente poderiam ser atribuídas a um homem comum. O profeta
disse que “o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno,
Príncipe da Paz” (Isaías 9,6b). O primeiro título “Maravilhoso e Conselheiro”,
aponta para a realidade supra-humana do Messias. Ele seria extremamente além do
comum, por isso a designação maravilhosa pode ser trazida como sobrenatural.
Como Conselheiro, o Messias teria a sabedoria plena. Uma vez ungido pelo
Espírito Santo, teria em si toda a sabedoria necessária para salvar seu povo.
O segundo título “Deus Forte”,
demonstra o elemento divino do Messias. Ele não seria apenas um homem; teria à
própria natureza divina. Isaias já havia profetizado que o Messias seria o
“Emmanuel”, que literalmente significa “Deus Conosco”. Agora ele vai além
atribuindo ao Messias o título que é dado ao próprio Deus – Deus Forte – isto
pode ser visto em Isaías 10, no qual o profeta fala sobre a conversão do povo:
“Naquele tempo, o restante de Israel e os remanescentes da casa de Jacó
deixarão de apoiar-se naquele que os fere, mas apoiar-se-ão com confiança no
Senhor, o Santo de Israel. Um resto de Jacó voltará para o Deus forte” (Isaías
10,20-21). Não há como negar, Isaias entendia que o Messias de alguma forma
seria homem, e, ao mesmo tempo, o Próprio Deus. E previa, por extensão, o fim
do sofrimento do povo judeu.
O terceiro título conferido ao
Messias por Isaias é “Pai da Eternidade”. Não devemos entender esse título como
Pai da Eternidade e sim como Pai Eterno. Ele seria para o povo o Pai
eternamente disponível, eternamente amoroso, eternamente cuidadoso, ou seja,
alguém que cuidará de seus filhos para sempre. As correntes filosóficas
espiritualistas creditam a Jesus o posto de maior espírito dirigente do
planeta.
O quarto título “Príncipe da
Paz”, Deus já havia se revelado a Gerdeão como o Senhor da paz, aquele que põe
fim às guerras, aquele que garante a paz. O Messias seria o Príncipe da Paz,
pois não só acabaria com a guerra, mas traria prosperidade após a batalha. Ao
examinarmos a II Grande Guerra como o confinamento dos espíritos das trevas,
pode-se crer que o planeta se encaminha para a paz entre os povos. E novamente
o mundo olha para o Oriente Médio à espera de que judeus e palestinos se
entendam.
Assim vemos que o Messias teria
todas as qualidades para salvar e cuidar de seu povo. Seria um sobrenatural
conselheiro capaz de ajudar seu povo e, ao mesmo tempo, o Deus Forte que
garantiria a vitória, sendo uma fonte de segurança eterna e estabelecendo uma
paz perene.
Nem é preciso dizer que somente
Jesus cumpre perfeitamente essa profecia. Ele é o verdadeiro representante de
Deus e verdadeiro homem. Somente Ele tem a sabedoria eterna; somente Ele é o
agente do Deus poderoso; somente Ele é nosso Pai Eterno planetário; somente Ele
nos garante a paz. Não há dúvidas, Isaías anunciou Jesus.
O anunciado que
foi rejeitado
A beleza das decorações ou as
alegrias das confraternizações do Natal parecem enraizar-se no mais recôndito
do coração humano. Não é diferente a Semana Santa quando dela retiramos o
coelho e os ovos, que são pura alegoria e pouco significam para contribuir com
a mensagem de Jesus ao vencer a morte e nos ensinar o caminho espiritual.
A preparação para o Natal é um
caminho interior para dar sustento e consistências aos caminhos da vida e às
vicissitudes que desafiam cotidianamente a existência humana. Mas, podíamos
fazer mais. Isso é pouco. Pouco também são os atos que retornam às horas de
sofrimento do gólgota, enquanto se perde o essencial da mensagem.
Tradicionalmente a Igreja
Católica na sua liturgia do Tempo do Advento, inclui na proclamação da Palavra
de Deus, a profecia de Isaías (capítulos 6 a 9). Os ecos dessa sua profecia têm
forças indicativas indispensáveis.
Trata-se de uma profecia que cultiva a inclinação para ouvi-la em razão de ressoar a sua voz com uma singular plenitude.
Trata-se de uma profecia que cultiva a inclinação para ouvi-la em razão de ressoar a sua voz com uma singular plenitude.
É ímpar a beleza com que Isaías
anuncia o Messias. Um anúncio com força de interpretação do presente indicando caminhos
novos e a premência de novos propósitos assumidos em âmbito pessoal para
configurar e sustentar um tempo novo sempre esperado por todos em cada etapa da
história. A profecia tem, pois, força de interpelação. Necessária quando se
considera o congelamento de consciências e a naturalidade de certas posturas
advindas de arriscadas relativizações de valores e de compromissos cidadãos.
Isaías era um ser
internacionalista. Sua leitura ia além das fronteiras judaicas. Atuou na
história de Israel na segunda metade do século VIII antes de Cristo.
Historicamente, profetizou quando a poderosa Assur se preparava para conquistar
a Síria e a Palestina, tendo assistido a queda do reino de Israel e de Samaria,
vendo com os próprios olhos a extrema desolação de Jerusalém. Portanto, um
tempo de derrocadas e desolações morais e na infraestrutura dessas sociedades
os padecimentos que poderiam encaminhar o povo judeu para sua destinação
histórica. Sua palavra torna-se um forte sinal de esperança. Seus discursos
ganharam uma admirável contundência na ordem interna da sociedade, situando bem
o contexto político mais global e incidindo sobre a conduta moral de cada
cidadão, mostrando, com argumentos incontestáveis, o quanto este valor ou a
falta dele tem força definidora nos rumos da sociedade, levando-a a conquistas
ou a derrocadas. Não estava a referir-se apenas aos judeus, mas a toda a
humanidade e tendo os judeus como modelo. Pena que o modelo ruiu e o mundo
mergulhou no ódio da guerra.
É sempre assim com os seres humanos.
Os ouvidos não ouvem a mente não aprende e corpo paga. Os judeus precisaram
perder grande parte de suas conquistas, daquilo que estava confortável,
precisaram sentir na carne a dor da perda para entenderem o que os seus
profetas vinham prevenindo. É difícil compreender por que durante milênios os
hebreus vieram ouvindo as vozes de seu Deus através dos profetas e justamente
no caso de Jesus, nada feito, a voz dos profetas já não valia mais. Os líderes
da época, confortados em posições de destaque no regime romano, preferiram
trair o seu destino e o destino de seu povo.
O discurso de Isaias atingia assim uma amplitude
jamais vista, maior e mais decisiva. Os
judeus traíram seu futuro. Essa amplitude é força educativa indispensável para
que uma sociedade supere seus descompassos e consiga fixar seu horizonte
emoldurado por razões que não incluam a mesquinhez, a desonestidade, a
ganância, a mentira, a luxúria, a birra, o fanatismo.
O enfrentamento deste embate não
pode prescindir das referências morais com suas raízes em tradições e fontes
sapienciais. Embora mantidos muitos desses valores, faltou aos judeus à época a
compreensão que alcançou o pequeno grupo de também judeus que seguiram Jesus.
Mas, perseguidos por romanos e judeus, esses judeus seguidores de Jesus se
perderam no tempo. Roma ocupou seu lugar e estragou tudo.
O profeta ajuda uma sociedade
perdida a assumir a convicção de que seus desastres advêm da imoralidade, da
teimosia, da birra, da intolerância, da exclusão, da soberba, do apego ao poder.
E a restauração de sua força brotará sempre da busca de uma conduta ilibada
centrada no respeito à vida, na verdade, na justiça, na solidariedade humana,
no amor.
O profeta, pois, educa a consciência moral do povo e mostra-lhe que ela é o sustentáculo de suas conquistas, de sua recomposição e a dinâmica de superação de suas incontáveis fragilidades gerando descompassos e pesando sobre os próprios ombros. A derrocada moral dos chefes, a regra de um jogo em que vale tudo e qualquer coisa, situa o povo num exílio que traz amarguras. Estamos falando do mais brutal exílio: o exílio em relação à Casa de Deus.
O profeta, pois, educa a consciência moral do povo e mostra-lhe que ela é o sustentáculo de suas conquistas, de sua recomposição e a dinâmica de superação de suas incontáveis fragilidades gerando descompassos e pesando sobre os próprios ombros. A derrocada moral dos chefes, a regra de um jogo em que vale tudo e qualquer coisa, situa o povo num exílio que traz amarguras. Estamos falando do mais brutal exílio: o exílio em relação à Casa de Deus.
Também faz perder a independência
porque torna as pessoas reféns de políticos, traficantes, sistemas
aprisionadores da dignidade humana, alimenta as ilusões dos números e das
posses onde a dignidade parece depender da ostentação, seja no vestir, no morar
ou no andar pelas ruas sobre rodas, tendo como resultado da projeção das ruínas
dos verdadeiros valores, das instituições ruídas e extremamente enfraquecidas
no seu poder, aquelas mesmas que um dia pareceram inabaláveis e inexpugnáveis,
a começar pelas Igrejas.
A profecia tem, então, como meta
a correção desta obstinação que cega impedindo de fixar o olhar noutro alguém.
Seu anúncio messiânico convida a encontrar a realidade nova que está visível no
coração desse tempo indicando que o novo não virá do simples poder e das
posses, mas da simplicidade amorosa da manifestação de Deus.
Anuncia assim que ‘um broto vai
surgir do tronco seco... das velhas raízes um ramo brotará’. O sinal será dado
pelo próprio Deus, pois ‘eis que a jovem conceberá e dará à luz um filho e lhe
porá o nome de Emmanuel’.
Isaías, entendido de política
internacional, e à luz dela interpreta com autoridade os acontecimentos, traz
ao povo o único caminho possível no encontro com o Messias, na força de sua
presença, para a superação de tudo o que desfigura uma sociedade que foi
poderosa. Um povo que foi forte, de reis imbatíveis agora exilados, cassados,
discriminados, enxotados.
Essa presença do Messias, Cristo
Jesus, o Menino Deus do Natal, bem como a presença do Homem Jesus, Condutor da
Passagem Pascal, é a única fonte com força para incidir na conduta de cada um
fazendo com que todos sejam capazes de readquirir sua própria dignidade. Tem de
ser entendido: Jesus não veio salvar, veio ensinar a senha para abrir as portas
das prisões. Os judeus queriam um governante salvador. Tinham um Messias
libertador. Preferiram ser salvos ao invés de libertos. Deu no que deu.
Uma sociedade diferente da lógica
que Deus chama de mãos sujas de sangue, dos que, gananciosamente, ajuntam casas
a casas, emendando terreno com terreno, diz o profeta Isaías, até não sobrar
espaço para mais ninguém, tornando-se donos de tudo. Essa sociedade maior muito,
muito, cópia do que Israel modelou para grande parte da humanidade, se fez dona
do planeta, conspurcou a Terra com sua ambição de ter mais e agora se vê
assustada com a elevação da temperatura, com o degelo das calotas, com as
aberrações climáticas e geológicas, com a miséria de 1/3 da humanidade, com a
crise econômica internacional, com o colapso à vista.
Na verdade, o profeta Isaias
revela onde estão as raízes dos males que afligem o povo. Comprova que o povo
anda para trás porque abandonou o seu Senhor, na pretensão de ser dono de algo
pequeno. A vinda do Messias, o Cristo Libertador, num tempo de uma Nova
Aliança, traz os ecos da profecia como imposição: "Lavai-vos, limpai-vos,
tirai das minhas vistas as injustiças. Parai de fazer o mal e aprendei a fazer
o bem. Buscai o que é correto, defendei o direito, fazei justiça". Natal é
busca do novo pela força dos ecos de uma profecia.
O início da Era de Aquário
reforça o que Isaias anuncia. Os tempos são outros para judeus, muçulmanos,
católicos, budistas, evangélicos, ateus, todos nós.
Vamos parar de desejar “Feliz
Natal” de forma hipócrita, convencional, frívola. A humanidade não precisa de
um Natal Feliz, precisa de Felicidade em Todos os Dias. Vamos parar de desejar
“Feliz Páscoa”, Páscoa é Passagem, e nós não passamos, entalamos, atolamos,
soçobramos, sucumbimos desviados da mensagem de Jesus e levados a outros
destinos por maus guias com sede em Jerusalém e Roma.
E a felicidade universal passa
pela pacificação daqueles que brigam por razões de fé. Fomos condicionados a
ser fraternos na semana do Natal e arrependidos na Semana Santa. Pensamos que o
Natal é a razão de ser de todo o ano de labutas e lamúrias. Pensamos que o
sacrifício de Jesus nos redimiu. Quis redimir. Nós o negamos por inteiro e
ainda temos a hipocrisia de dizer que somos cristãos. Isso pode ser mudado. Está sendo mudado.
Haveria uma
maldição sobre os judeus?
No recente segundo volume sobre Jesus de Nazaré, Bento XVI sustenta que é
um erro culpar todo o povo judeu pela morte de Jesus. Aqui, o autor expõe as
causas desse lamentável erro, e a interpretação do texto de Mateus. Segundo o
Evangelho de Mateus, durante o processo de Jesus, os judeus pronunciaram uma
frase que, sem querer, marcou a história e o destino do povo hebreu em sua
relação com os cristãos: “Que seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos!”
(Mt 27,25).
Este grito foi interpretado, no decorrer dos séculos, como uma maldição que
o povo judeu jogou sobre si mesmo, assumindo a responsabilidade pela morte de Jesus,
em cuja pessoa poderia estar ou estava o Messias esperado pelos judeus.
Desde então muitos citam esse versículo como prova de que Deus rejeitou Israel; e pior ainda, serviu para justificar as atrocidades e perseguições cometidas contra esse povo, como se esses sofrimentos fossem um castigo divino.
Desde então muitos citam esse versículo como prova de que Deus rejeitou Israel; e pior ainda, serviu para justificar as atrocidades e perseguições cometidas contra esse povo, como se esses sofrimentos fossem um castigo divino.
Hutton Gibson, pai do ator Mel Gibson, em seu livro “O inimigo ainda está
aqui” (2003) escreveu: “Quando Pôncio Pilatos negou a aceitar a
responsabilidade pela morte de Jesus, a culpa caiu nos judeus presentes; foi um
crime superior ao pecado original e ao da torre de Babel; por isso, o castigo
caiu sobre as futuras gerações judias, que sofreram muitos desastres como o
holocausto, pela maldição que eles lançaram sobre suas cabeças”.
Com razão o teólogo inglês G. C. Montefiore chegou a escrever: “Essa é uma das frases responsáveis por oceanos de sangue humano, e por incessantes rios de miséria e desolação”. Mas por que ficou registrada no Evangelho?
O episódio aparece somente em São Mateus, o único dos três evangelhos que é original; Marcos e Lucas são cópias de Mateus. Segundo Montefiore, quando as autoridades judias levaram Jesus perante Pilatos para que fosse julgado, o governador romano percebeu que o entregaram por inveja, e tentou liberá-lo. Para isso recorreu a um ardil. Pensou que se Jesus enfrentasse um famoso preso chamado Barrabás, para que o povo escolhesse aquele que deveria ficar em liberdade, o povo poderia optar por Jesus. Mas se equivocou. Os sumos sacerdotes e dirigentes judeus convenceram a multidão a pedir a liberdade do delinquente (Mt 27;15-23). Pilatos, vendo frustrado seu estratagema, disse aos judeus que não podia condenar Jesus à morte porque não encontrava nele nenhum delito. Esta frase já teria que ter servido para acabar com o julgamento: o juiz já se pronunciara. Mas, a nova tentativa também não funcionou porque as pessoas, instigadas pelos sumos sacerdotes, começaram a ficar alteradas e a gritar: “Crucifica-o, crucifica-o” (Mt 27,22-23). Pilatos ficou com medo da turba emocionalmente comprometida, e certo de que nada que fizesse salvaria Jesus, mas pelo contrário sua negativa a condená-lo provocaria maiores distúrbios, realizou um último gesto simbólico. Diante de todos lavou as mãos dizendo: “Eu não sou responsável pelo sangue deste homem; este é um problema vosso” (Mt 27,24).
É muito difícil acreditar que Pilatos tenha realizado este gesto. Efetivamente, o lavatório das mãos como expressão de inocência pública é um costume judeu, estabelecido por Moisés, e ordenado no Antigo Testamento. Segundo a mentalidade semita, o sangue derramado de uma pessoa inocente tinha a propriedade de manchar não só o culpado, mas todos aqueles que cruzassem com o morto, e inclusive todo o povoado onde fora cometido o crime. Por isso, Moisés ordenou que quando numa cidade descobrissem um cadáver e não fosse possível identificar o malfeitor, os dirigentes deveriam reunir-se em um rio e lavar as mãos, dizendo: “Nossas mãos não derramaram este sangue”. Depois deveriam orar a Deus: “Que este sangue inocente não caia no meio de seu povo, Israel”. Assim, os dirigentes e o povo ficavam livres da culpa (Dt 21,1-9).
Na Bíblia várias vezes se fala da lavagem de mãos. Lemos nos Salmos: “Lavo minhas mãos em sinal de inocência, dando voltas ao redor de seu altar” (Sal 26,6). E também: “Em vão mantive puro meu coração, lavando minhas mãos na inocência” (Sal 73,13). Que Pôncio Pilatos, sendo romano, tivesse realizado um ritual próprio da cultura hebraica resulta inverossímil ou falso, cópia hipócrita. Por isso, muitos autores afirmam que a cena é uma criação do evangelista Mateus que, ao escrever aos leitores de origem judaica, utiliza essa imagem para fazê-los compreender que o governador não o condenou; quem o condenou foi o povo judeu.
Com razão o teólogo inglês G. C. Montefiore chegou a escrever: “Essa é uma das frases responsáveis por oceanos de sangue humano, e por incessantes rios de miséria e desolação”. Mas por que ficou registrada no Evangelho?
O episódio aparece somente em São Mateus, o único dos três evangelhos que é original; Marcos e Lucas são cópias de Mateus. Segundo Montefiore, quando as autoridades judias levaram Jesus perante Pilatos para que fosse julgado, o governador romano percebeu que o entregaram por inveja, e tentou liberá-lo. Para isso recorreu a um ardil. Pensou que se Jesus enfrentasse um famoso preso chamado Barrabás, para que o povo escolhesse aquele que deveria ficar em liberdade, o povo poderia optar por Jesus. Mas se equivocou. Os sumos sacerdotes e dirigentes judeus convenceram a multidão a pedir a liberdade do delinquente (Mt 27;15-23). Pilatos, vendo frustrado seu estratagema, disse aos judeus que não podia condenar Jesus à morte porque não encontrava nele nenhum delito. Esta frase já teria que ter servido para acabar com o julgamento: o juiz já se pronunciara. Mas, a nova tentativa também não funcionou porque as pessoas, instigadas pelos sumos sacerdotes, começaram a ficar alteradas e a gritar: “Crucifica-o, crucifica-o” (Mt 27,22-23). Pilatos ficou com medo da turba emocionalmente comprometida, e certo de que nada que fizesse salvaria Jesus, mas pelo contrário sua negativa a condená-lo provocaria maiores distúrbios, realizou um último gesto simbólico. Diante de todos lavou as mãos dizendo: “Eu não sou responsável pelo sangue deste homem; este é um problema vosso” (Mt 27,24).
É muito difícil acreditar que Pilatos tenha realizado este gesto. Efetivamente, o lavatório das mãos como expressão de inocência pública é um costume judeu, estabelecido por Moisés, e ordenado no Antigo Testamento. Segundo a mentalidade semita, o sangue derramado de uma pessoa inocente tinha a propriedade de manchar não só o culpado, mas todos aqueles que cruzassem com o morto, e inclusive todo o povoado onde fora cometido o crime. Por isso, Moisés ordenou que quando numa cidade descobrissem um cadáver e não fosse possível identificar o malfeitor, os dirigentes deveriam reunir-se em um rio e lavar as mãos, dizendo: “Nossas mãos não derramaram este sangue”. Depois deveriam orar a Deus: “Que este sangue inocente não caia no meio de seu povo, Israel”. Assim, os dirigentes e o povo ficavam livres da culpa (Dt 21,1-9).
Na Bíblia várias vezes se fala da lavagem de mãos. Lemos nos Salmos: “Lavo minhas mãos em sinal de inocência, dando voltas ao redor de seu altar” (Sal 26,6). E também: “Em vão mantive puro meu coração, lavando minhas mãos na inocência” (Sal 73,13). Que Pôncio Pilatos, sendo romano, tivesse realizado um ritual próprio da cultura hebraica resulta inverossímil ou falso, cópia hipócrita. Por isso, muitos autores afirmam que a cena é uma criação do evangelista Mateus que, ao escrever aos leitores de origem judaica, utiliza essa imagem para fazê-los compreender que o governador não o condenou; quem o condenou foi o povo judeu.
Como resposta a sua lavagem de mãos, Mateus diz que o povo judeu gritou:
“Que seu sangue (de Jesus) caia sobre nós e sobre nossos filhos!” (Mt 27,24-
25). Esta é a frase que para muitos resulta desconcertante. Na realidade é uma
fórmula legal frequente no Antigo Testamento, indicando a pessoa que deveria
assumir a responsabilidade por um delito, e sofrer o castigo correspondente,
que era a morte. O livro do Levítico diz: “Se alguém amaldiçoar seu pai ou sua
mãe certamente será morto; que seu sangue caia sobre ele” (Lv 20,9); “Quem se
deitar com a mulher de seu pai morrerá; seu sangue cairá sobre ele” (Lv 20,11);
“Se um homem se deitar com outro homem, os dois morrerão; seu sangue cairá
sobre eles” (Lv 20,13). Quando Davi se encontrou com o soldado que matara o rei
Saul, disse-lhe: “Por ter matado ao ungido de Javé, seu sangue cairá sobre sua
cabeça” (1 Sm 2,16). E quando Joabe, general do exército de Davi, matou o
general Abner sem consentimento do rei, Davi exclamou: “O sangue de Abner cairá
sobre a cabeça de Joabe e sua família” (2 Sm 3,29).
Ora, os judeus e principalmente os tradicionalistas fariseus conheciam
todos os textos sagrados da Torá e conheciam a passagem narrada por Jeremias em
pleno tempo quando, em situação análoga a Jesus, estava por ser condenado à
morte e declarou às autoridades de Jerusalém: “Sabei, porém, que se me
condenardes à morte, será de sangue inocente que maculareis esta cidade e seus
habitantes” (Jr 26,15).
Mas, o sentido da frase fica mais claro no evangelho de Mateus. Significa que a multidão presente no julgamento de Jesus assumiu a responsabilidade de sua execução. Por isso, Roma se torna não autora daquele ato, como pretendem alguns autores. Beneficiada, mas não autora.
Mas, o sentido da frase fica mais claro no evangelho de Mateus. Significa que a multidão presente no julgamento de Jesus assumiu a responsabilidade de sua execução. Por isso, Roma se torna não autora daquele ato, como pretendem alguns autores. Beneficiada, mas não autora.
Mas a cena tem detalhes curiosos. Em primeiro lugar, o povo judeu não
emprega a fórmula como corresponde. Quando alguém na Bíblia invocava o castigo
de sangue, fazia-o sobre a cabeça de outro, de um terceiro, nunca sobre a
própria. Em compensação, em Mateus, o povo judeu o aplica sobre si, como se
quisesse incriminar-se, auto castigando-se, em vez de livrarem-se dos efeitos
do sangue, que era o sentido da fórmula.
Em segundo lugar, resulta interessante que o grito seja lançado por “todo o povo”. Até esse momento Mateus vinha relatando que só “uma multidão” presenciava o julgamento, isto é, um grupo limitado de pessoas. A “multidão” apresenta-se perante o governador (Mt 27,15), pede a libertação de Barrabás (Mt 27,20-21), exige a crucificação de Jesus (Mt 27,22), e presencia a lavagem de mãos (Mt 27,24). Mas de repente, Mateus parece esquecer-se deste grupo, e diz que é todo o povo quem agora reclama sobre si o sangue de Jesus. Trata-se de uma mudança intencionada ou estaria se referindo que os sumos sacerdotes falavam e agiam em nome de todo o povo. Em Mateus, a expressão “o povo” sempre alude a Israel como raça, etnia, nação global. Por isso ao substituir “a multidão” por “povo” estava dizendo a seus leitores que o sangue de Jesus, invocado nesse dia, não caiu unicamente sobre os assistentes ao processo, senão sobre toda a nação judia e sobre as gerações futuras.
Em segundo lugar, resulta interessante que o grito seja lançado por “todo o povo”. Até esse momento Mateus vinha relatando que só “uma multidão” presenciava o julgamento, isto é, um grupo limitado de pessoas. A “multidão” apresenta-se perante o governador (Mt 27,15), pede a libertação de Barrabás (Mt 27,20-21), exige a crucificação de Jesus (Mt 27,22), e presencia a lavagem de mãos (Mt 27,24). Mas de repente, Mateus parece esquecer-se deste grupo, e diz que é todo o povo quem agora reclama sobre si o sangue de Jesus. Trata-se de uma mudança intencionada ou estaria se referindo que os sumos sacerdotes falavam e agiam em nome de todo o povo. Em Mateus, a expressão “o povo” sempre alude a Israel como raça, etnia, nação global. Por isso ao substituir “a multidão” por “povo” estava dizendo a seus leitores que o sangue de Jesus, invocado nesse dia, não caiu unicamente sobre os assistentes ao processo, senão sobre toda a nação judia e sobre as gerações futuras.
Que significado tem esta cena? Sempre foi interpretada no sentido de que
todos os judeus, de todos os tempos são culpáveis da morte de Jesus. Um dos
primeiros em defender essa postura foi Orígenes (séc. III), que dizia que o
sangue de Jesus “caiu sobre todas as gerações posteriores de judeus, até o
final dos tempos”.
Tiveram a mesma opinião: Melito de Sardes (sec. II), Santo Agostinho (séc. IV), São Jerônimo (séc. IV), São João Crisóstomo (séc. IV), Teofilato (séc. IX), Tomás de Aquino (séc. XIII) e Calvino (séc. XV).
Tiveram a mesma opinião: Melito de Sardes (sec. II), Santo Agostinho (séc. IV), São Jerônimo (séc. IV), São João Crisóstomo (séc. IV), Teofilato (séc. IX), Tomás de Aquino (séc. XIII) e Calvino (séc. XV).
Por sua vez Martin Luther (séc XV) afirmou que a miséria na qual viviam os
judeus em sua época, e sua posterior condenação eterna, devia-se a que
recusaram o Filho de Deus. Certamente houve outras interpretações mais
mitigadas, mas em geral foi essa a que primou, e fez com que muitos cristãos
desenvolvessem aversão pelo povo hebreu. Alguns estudiosos, para saírem do
aperto, sugerem que se a lavagem de mãos não é considerada histórica, a
resposta dos judeus também não deve ser considerada como tal; portanto, essas
palavras carecem de importância. Mas isso não resolve o problema de fundo: por
que Mateus, inspirado por Deus, conservou essa frase nos lábios dos judeus?
Quis aludir a alguma espécie de castigo?
Para piorar as coisas Mateus conta que, em seu último discurso em público,
Jesus recordou aos judeus que eles derramaram muito sangue inocente ao longo da
história, “desde o justo Abel até Zacarias” (Mt 23,33-36): “Serpentes! Raça de
víboras! Como escapareis ao castigo do inferno? Vede que vos envio profetas,
sábios e doutores. Matareis e crucificareis uns e açoitareis outros nas vossas
sinagogas. ... Em verdade vos digo, todos esses crimes pesam sobre esta raça”.
Por que Jesus nomeia Abel e Zacarias? É que Abel era o filho de Adão e Eva,
morto por seu irmão Caim. E Zacarias era um famoso sacerdote de Jerusalém, do
século IX a.C., que por ter-se animado a denunciar a imoralidade na qual viviam
os israelitas, foi apedrejado até a morte no pátio do templo. Zacarias morreu
dizendo: “Que Javé veja isto e lhes peça contas” (2 Cro 24,20-22). Jesus os
mencionou de propósito porque Abel é o primeiro inocente assassinado da Bíblia
(Gn 4,8), e Zacarias o último.
O que Jesus quis dizer nessa oportunidade é que toda a história do povo judeu, desde o primeiro ao último livro da Bíblia, estava manchada de crimes e mortes inocentes. E esse sangue clamava aos céus (Gn 4,10), exigindo um justo castigo. Por isso concluiu aquele sermão com uma frase inquietante: “Asseguro-lhes que tudo isso recairá sobre esta geração” (Mt 23,36).
O que Jesus quis dizer nessa oportunidade é que toda a história do povo judeu, desde o primeiro ao último livro da Bíblia, estava manchada de crimes e mortes inocentes. E esse sangue clamava aos céus (Gn 4,10), exigindo um justo castigo. Por isso concluiu aquele sermão com uma frase inquietante: “Asseguro-lhes que tudo isso recairá sobre esta geração” (Mt 23,36).
A morte de Jesus e a maldição dos judeus acompanha a trajetória da Igreja
Cristã e o périplo judaico em busca de paz. Toda a história do povo
judeu, desde o primeiro ao último livro da Bíblia, estava manchada de crimes e
mortes de inocentes. E esse sangue clamava aos céus (Gn 4,10), exigindo um
justo castigo.
Jesus está de volta e eloquente
Dois milênios antes de Cristo,
dizem-nos as Escrituras Judaicas, Deus promete ao patriarca Abraão, raiz do
povo hebreu: “Na tua descendência, serão benditas todas as nações” (Gênesis,
22). Estava predito que a bênção alcançaria todo o povo hebreu desde Abraão
passando por Jacó, Moisés, Isaías, João Batista, Jesus, que são os principais
ícones da doutrina judaica. E mais: o projeto da salvação humana não se
restringe só ao povo judeu, mas recebe do povo judeu extraordinárias
contribuições. Vimos com o passar dos séculos que as contribuições se dividem
em construtivas e não construtivas.
Jesus trouxe uma transformação
necessária ao tradicionalíssimo povo judeu e enfrentou uma pesada ideologia
judaica na figura dos fariseus e de outros.
Toda a discordância fundamental
era pelo não desejo de mudar. E Cristo só tinha transformações e mudanças em
sua doutrina.
Ao se anunciar povo eleito de
Deus, os judeus acharam-se perfeitos e isso lhes autorizava manter as
tradições, nada mais. E insistiam na assertiva de que Deus estava com eles
permitindo a progressão de uma cultura de castas segundo o que alguns são mais
e outros são menos, o que acabou por estabelecer também a escravidão entre nós.
Na verdade, foram os judeus
também levados à condição de escravos. No exato momento em que Jesus pregava a
igualdade, a fraternidade e comia com os pagãos, visitando e curando
necessitados pobres e desvalidos, mas também membros da aristocracia romana imperial,
e visitando territórios inimigos dos judeus para dizer alto e bom som
TODOS SOMOS UM, a arrogância, a soberba e o fanatismo judaico não permitiram
que isso fosse visto e assimilado como ideal de vida.
Quanto se pode lamentar, hoje,
por esta reação dos adversários de Jesus. Jacó, filho de Abraão, no leito de
morte, abençoou cada um de seus 12 filhos. Ao pôr as mãos sobre Judá (o futuro
patriarca da tribo mais destacada), profetizou: “Não se apartará o cetro
(reinado) de Judá, nem o bastão de comando, até que venha aquele (Messias) a
quem devem obediência aos povos”. Jesus descendia dessa tribo.
Aproximadamente, dez séculos
antes de Cristo, o profeta Balaão, em êxtase, profetizou: “Vê-lo-ei, não agora,
nem de perto. Uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá o cetro...”
(Números, 24). O profeta Isaías, sete séculos antes, anteviu o Messias: “Do
tronco de Jessé (pai do rei Davi), sairá um rebento, e das suas raízes um novo
rebento” (Isaías, 11). Mais adiante: “Uma virgem conceberá e dará à luz um
filho, chamado Emmanuel (isto é, Deus no meio dos homens)”. Naquele mesmo
tempo, o profeta Miquéias anunciava: "E tu, Belém de Éfrata, de ti, tão
pequenina, sairá o que há de reinar, cujas origens são desde a eternidade”.
Esta profecia nos remete ao
primeiro capítulo do evangelista João, uma obra-prima da literatura universal:
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o verbo era Deus.
Ele estava no princípio junto de Deus,... e o Verbo se fez carne e habitou
entre nós”. Revisitando esta doutrina: “No princípio era o Espírito e o
Espírito estava junto de Deus e o Espírito se encarnou e habitou entre nós”. O
Espírito Superior chamado Cristo, pertencente aos mais elevados escalões
divinos desceu sobre Joshua Bar Levi, filho de Yussef Bar Levi e de Maria de
Nazaré, descendentes de Jacó e Davi para trazer inicialmente aos judeus e por
extensão ao mundo tudo, um novo Reino, o Reino de Deus.
Num tempo de reconciliação,
aproximação e convergência de ideologias, religiões e filosofias, certamente é
chegado o tempo da Igreja de Roma rever suas posições (via Papa Francisco)
quanto às coisas que trouxeram tantos sofrimentos aos povos, notadamente aos
judeus, muçulmanos e cristãos (refiro-me desde as cruzadas até os nossos dias)
e certamente também tempo das lideranças judaicas reverem os posicionamentos de
seus líderes ancestrais. Refiro-me à hipótese de aceitar Jesus Cristo como o
Messias anunciado. Dois mil anos depois nenhum outro messias judaico ocupou a
cena que estava reservada a Jesus. Como teimar que Jesus não era o Messias
esperado?
Só porque Jesus não se sentou ao
trono de Davi para governar Israel teria sido motivo para a comunidade judaica
rejeitá-lo? Esse é um posicionamento muito limitado, pois o Messias veio para
governar o planeta todo. E se aceito, obviamente, o trono poderia ser o de
Davi.
Só porque Jesus sugeriu algumas
alterações no modo de vida dos judeus teria sido motivo para tanto rebuliço por
parte dos porta-vozes oposicionistas? Será que o povo judeu não alterou nada
nesses dois mil anos?
Onde está a coerência? Seria isso
uma queda de braço? Pensando bem, quem é que está perdendo e perdendo feio
nesses dois mil anos?
Honestamente, o holocausto
judaico em todo o redor do mundo poderia ou não poderia ser o efeito de tantas
causas remotas?
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