As
marcas espirituais da escravidão
Já
se disse de tudo a respeito do aspecto espiritual da escravidão. Pura
especulação, chute, palpite. Essa questão não pode ser olhada apenas a partir do
homem exclusivamente terreno e nem também dos últimos 30 séculos. Temos de ser
amplos, abertos, cósmicos. O fato de as maiores levas de escravos deste planeta
terem sido retirados da África e mandados para outros continentes para servir
principalmente o homem ariano, indo-europeu, não quer dizer nada. Não se
explica aí karma, nem dharma, para usar expressões de dívida e prêmio vindas do
sânscrito, cuja pátria também escravizou e escraviza não aos negros, mas aos
próprios irmãos da mesma etnia e não da mesma casta. Pode explicar muito mais
que isso.
Tenho
conversado com os pretos velhos da velha escola anterior ao cativeiro das eras
cristãs. Na serenidade das suas ponderadas informações, vamos compreendendo
como e porque uma criança é colocada no seio de uma família, numa sala de aula,
a espera de sua maioridade para assumir suas próprias ações, responder por seus
atos. Espíritos jovenzinhos, mandados para os primeiros falquejos a caminho da
civilização que os acolheria no passo seguinte. Seus ritos: a enfumaçada
senzala, hoje reproduzida nas terreiras de Umbanda e Candomblé, onde orixás
ainda pedem um gole de marrafa, fumam seus charutos, abatem animais, retroagem
aos tempos de Abraão e Jacó, não raro com sacrifício, mesmo, de humanos. O que
dizer da religiosidade haitiana que quase toda se inclina pelo vodu? E põe
sofrimento e aprendizado aos haitianos se não pelas suas condições políticas e
econômicas, muito pelas condições geonaturais.
No
meio das divindades primitivas que conversam com os afros espalhados pelo
planeta, estão os seus luminares pretos velhos de fala macia, pregando o amor e
a obediência, principalmente. Obediência, sim. São os mais legítimos habitantes
do Éden, retratados na narrativa do africano Moisés, transformado em líder
maior dos hebreus, mas filho da África. O que significa ter sido expulso do
Éden? Significa ter desobedecido uma lei maior de Deus e mandado para fora do
Éden, a fim de aprender, antes de tudo, obedecer. Ter por mestre um senhor
severo, capaz de usar do chicote para corrigir uns na frente de outros, como
exemplo.
Eis
a saga do povo escravo. Quase todos os seus membros emergiram para a liberdade
como gente obediente. Uns se revoltaram e foram à luta, mas 98% aprendeu a
lição. Já pode voltar se encaminhar para o Éden.
Mas,
antes de mudar o ângulo da conversa, uma pergunta se impõe: os membros da
cadeia escravagista são quem pela interpretação dada pelos pretos velhos? São
um pouquinho mais maduros, nem tão crianças, um pouco mais que adolescentes,
por enquanto sem consciência do que são chamados a fazer, por isso cometem
exageros. Mas, note dentre os senhores de escravos podem ser encontrados
verdadeiros pais educadores severos porém dotados de ternura, prova disso é que
numerosos escravos alforriados pela Lei Áurea nem foram embora, ficaram e
gostaram de ficar onde estavam dado o modo como foram tratados enquanto
submissos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário